Vi
um homem sendo executado
Bem
ali no meio da rua
Não
me dei por achado
Aquilo
já era uma verdade crua
Coisa
rotineira ali na periferia
Tão
certo como o nascer
De
um novo dia
Enquanto
o mundo fosse mundo
Não
me dei por achado
No
entanto, não deixei.
De
dar uma olhadela
No
que seria, apenas...
Mais um inevitável capitulo.
Da
interminável novela
Que
é a natureza humana
Na
qual a violência fala mais alto
Que
a bondade e a decência
Não
sei se deveria ter olhado
Porém
olhei!
E,
por ter olhado, ditei a minha sorte.
Aquele
olhar inocente e curioso
Decretou
minha sentença de morte.
Foi
quando o executor
Lançou-me
um olhar ameaçador
E
mandou-me deitar no chão
Respondi
a ele quê...
Deitado
eu não morreria
E
realmente não morri deitado
Ao
chegar ao solo
Estava
mais que despachado
Por
uma poderosa rajada
De
metralhadora Lewis
Mesmo
morto, ainda pensava:
O
quanto a morte é sedutora
E se
daria realmente
O
descanso prometido
Talvez
depois!
Pois
naquele momento
O
frio matador
Arrastava
eu e meu companheiro
De
última viagem
Duramente
pelo meio fio
Até
onde se encontrava
Uma
mangueira vermelha
Com
a qual despejou
Fortes
jatos de água
Em
nossos corpos ensanguentados.
Disse
ele que era...
Para
chegarmos limpos
Diante
do diabo...
Foi
quando Severino...
O
matuto da rua
E
dono da água de nosso
Frio
e derradeiro banho
Aproximou-se
e reconheceu
O
outro morto e eu
Sobre
o outro disse:
Nada
a lamentar
A
meu respeito falou:
-Caso
tivesse sentimentos...
Fatalmente, iria chorar.
Mas, não lamentou e nem chorou
Entrou
em sua casa
Sob
a mira de metralhadora
E
acho que está lá dentro até agora
Ainda
ouvi sua última frase
“Homem
que é homem não chora!”
Então apareceu...
A
beata da rua
Com
o coração no céu
E
a cabeça na lua!
Pronunciou
meu nome e...
fez uma comovente oração
Fechou-me
os olhos
Com
sua mão ensebada
Dali
em diante...
Não vi e nem ouvi
Mais
nada!
Lemos
14/07/1927