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domingo, 3 de outubro de 2010

Véspera de eleições.

A estranha mulher que encontrei no caminho
Quando voltava da padaria
Foi a quarta pessoa que vi naquele dia
E a segunda com quem conversei
Pra ser mais exato; a primeira a quem escutei
E que coisas estranhas e interessantes
Aquela enigmática mulher me falou
Era véspera das eleições
Quando educadamente me interpelou
Desejando-me um bom dia
O que lhe respondi prontamente
E sereno continuei a caminhar
Quando novamente sua voz se fez soar
Dizia a mulher: espere um pouco.
E sua história começou a narrar
Contou-me ter vindo da Bahia com onze anos
Trazendo um filho na barriga e muitos planos
Que ao longo do tempo não deram em nada
Chamou-me a atenção sua aparencia cansada
Dizia ter trinta e oito anos de vida
Apesar da feição um tanto envelhecida.
Enormes seios, descansavam sobre sua barrriga
Foram, mais dez filhos desde o primeiro
Ao longo de vinte e sete penosos janeiros
Esboçou,então, um sorriso algo triste
E logo em seguida perguntou-me:
_Em quem o senhor vai votar?
Respondi que ainda não havia decidido.
Pois sou partidário do voto secreto
Ela, não se fez de rogada
E, apontando para um cartaz
Que se encontrava do outro lado da rua
Disse-me:
Não vote; naquela piranha!
Pois a desgraça será tamanha!
Respondi-lhe que não iria votar
E recomecei meu caminhar
Quando, novamente, a mulher me chamou
E com voz baixa me questionou
Se não me incomodaria, se me desse um presente
Respondi que não, desde que não lhe fizesse falta
Seu grau de pobreza era muito aparente
Visto que portava uma grande sacola
Com alguns produtos recicláveis
Em suma: era ela, uma catadora.
Dizendo, que não lhe faria falta
E que era, um grande prazer me presentear
Em uma sacola menor, começou a vasculhar
A primeira coisa que dali retirou
Foi, um pequeno pombo negro, já morto
Fiquei observando, com o olhar meio torto
Contudo, não me dei por achado
Depois saiu da sacola um monte de papel amassado
Um minúsculo carretel de linha amarela
E por fim, um pirulito embrulhado
Novamente a voz da mulher, com certa emoção
Aceite meu amigo, pois é de coração!
É claro que aceitei, e coloquei no bolso da bermuda
Estava eu, preste a seguir quando me perguntou meu nome
E logo em seguida disse-me o seu
Disse chamar-se Silma, e fez questão de frisar
Não ser Dilma, aquela do cartaz!
Observou-me, que eu devia ter lavado os olhos ao acordar
É certo que eu havia lavado, mas pelo jeito muito mal
Aceitei a critica de modo cordial
E ofereci-lhe um pão para, então, seguir caminhando
Foi quando veio, enfim, o tópico da conversação
Aquela mulher, me perguntou se eu tinha filhos
E que idade, tinham eles no momento
Respondi, ter um filho de vinte e dois
Quase caí quando ela me ofereceu para adoção
Sua pequena filhinha de dois
A qual não tinha condições de criar
Interiormente, questionei se a informação procedia
Mesmo, não sendo ninguém para julgar
A sanidade mental daquela mulher
Afinal!
Aparência; muitas vezes conduz a nos enganar
Até mesmo porque, ela falou peculiaridades da criança
Subiu-me um nó na garganta
Apertei a mão suja da mulher, e segui meu caminho
Já em casa, lembrei-me da alegria com que comeu o pãozinho
E quanto; ao pirulito que dela ganhei
Foi o melhor doce; que na vida degustei!

Lemos domingo três de outubro de 2010.