Sentado,
na fria calçada.
Não
me preocupa nada
Digo
que é só alegria.
Embora,
minha figura.
Esteja
bastante apagada.
Do
que, já foi um dia.
Vejo
as pessoas passando.
Algumas,
me cumprimentando.
E
me chamando, pelo meu nome.
Outras,
simplesmente me ignorando.
O
que talvez; seja uma forma.
Que
encontram, de respeitar.
Aquilo,
que não se pode entender.
Através;
do olhar da razão.
Ou
quem sabe:
Uma
estranha forma de driblar.
Algum
manifesto do coração
Mas;
não faz diferença.
Não
espero; qualquer recompensa.
Pela
minha sinceridade
Por
ter seguido, minha verdade.
Tenho
o estômago a ronronar.
É
esta, sua forma de protestar.
Pela
falta de comida.
Sem
ter; dinheiro para gastar.
O
pouco; que consigo arranjar.
Vendendo
latas e papelão
Deixo,
com o Bigode do bar.
Ou;
no mercado do João.
Que,
penalizados, me entregam.
A
garrafa, de aguardente.
Que
apanho, com sofreguidão.
Passa;
uma colega de infância.
Dou
a ela, o meu melhor sorriso.
De
minha boca, estragada.
Com
uma feia, e imensa janela.
Dirijo-lhe;
um espontâneo elogio:
-Nossa!
Como você está bela
E
ela responde: - Amém!
-Você;
também está bem.
E
segue, o seu caminho.
E
eu, continuo.
Em
meu canto, quieto e sozinho.
Com
a mente a vagar
Entre
a antiga vida, e a atual.
Mas,
sem traçar qualquer ideal.
Pego,
um tomate estragado no chão.
E o
limpo, com o dorso da mão.
Engulo-o,
quase que de uma vez.
À guisa de refeição.
Apanho
a garrafa, que está ao meu lado.
E
bebo, a cachaça pelo gargalo.
Assusta-se,
quem vê o tamanho.
Dos
olhos que arregalo
Ao
sacudir, o líquido na boca.
Antes,
de finalmente o engolir.
Pode-se
dizer ser um estranho.
E
até mesmo, nojento ritual.
Mas
cada qual tem o seu jeito.
E
assim: Sinto-me natural
Passa;
o dentista japonês.
Em
seu reluzente carrão
Abaixa
um pouco o vidro.
E
grita festivo:
-Tudo
bem Pedrão!
Respondo-lhe;
que sim.
Feliz;
pela consideração.
E pela
prova de humildade
Ao
não, desprezar o irmão.
Diante
da adversidade.
O
que não é bem o meu caso.
Pois
tenho, a vida que escolhi.
Também;
já tive um lar.
Já
tive! Mulheres e carrão
Muito
dinheiro, para gastar.
Hoje;
nem sapato tenho!
Para,
meus sujos pés calçar.
E
minha mulher, é a minha mão.
Piada;
infame e sem razão.
Que
pode levar à ira.
Alguns,
puritanos de plantão.
Tive
mulheres, boa roupa e carrão.
Contudo;
nem por isso me prendi.
Pois;
mesmo tendo tudo isso.
Faltava-me
o ar!
Faltava-me;
voz para cantar.
Por
isso; fui atraído pelo bar.
Onde
havia muita cantoria.
E minha voz aparecia
Lá havia bebida:
E era boa a companhia.
Hoje;
sou conhecido.
Como;
o velho e bom Pedrão.
Aquele;
que não faz mal a ninguém.
E
que leva; a vida que escolheu.
Dizendo,
que vive muito bem.
Vejo;
passar a mulher.
Que
no passado; dizia me amar.
E
agora. Encontra-se bem casada.
Faz
de tudo; para não me olhar.
Porém,
como passado não se pode negar.
Disfarçadamente,
me dá uma olhada.
Talvez;
pensando no desgosto.
Do
qual, felizmente escapou.
Quando
comigo, não se casou.
Ou
quem sabe?
Se
tudo, não seria diferente.
Se tivesse,
comigo se casado.
Mas,
entre o certo e duvidoso.
Congratula-se,
por ter renunciado.
Logo,
ao ver que minha trajetória.
Pendia;
para o lado marginal.
Muitos
pensamentos:
Nessa
minha vida, que é uma novela.
Mas,
não é hora de lamentos.
É
momento! De molhar a goela
Outra
talagada!
Outro,
abominável gargarejo.
E a
bebida, desce suavemente.
Do
segundo trago, em diante.
O
sabor é bem diferente.
À
noite, vem chegando.
E
com ela, a vontade de dormir.
Dirijo-me,
à padaria falida.
Sob
cujo toldo, faço minha cama.
O
dono do restaurante atravessa a rua.
E
generosamente:
Entrega-me,
uma marmita.
Como,
vagarosamente.
Quase,
vencido pelo sono.
Vejo;
em minha perna a ferida.
Purulenta,
e malcheirosa.
Que
parece dobrar de tamanho.
A
cada dia, que se passa.
E
começo, a achar estranho.
O
meu, modo de vida.
O
meu, conceito de liberdade.
Deito-me;
sobre o braço direito.
O
coração; acelerado no peito.
Clama!
Por um pouco de juízo
Ponho,
em xeque meu sorriso.
E;
minha idéia de felicidade.
Foge
das proporções reais.
Chego,
enfim, a duvidar.
Das
minhas faculdades mentais
Abro
uma boca descomunal.
Levo
de novo, minha mão à garrafa.
Todavia,
desisto da intenção.
Já
não sei; a quantas milhas
Encontro-me da razão.
Uma
lágrima; escorre-me no rosto.
Faço
uma sincera oração.
Doem-me,
as costas.
Por
isso, mudo de posição.
E
antes, de finalmente me entregar.
Ainda,
encontro forças.
Para
fazer; uma nova oração.
Ainda
encontro:
Uma
razão, para pensar.
No
mal, que faço as pessoas.
Que
me desejam, coisas boas.
Enfim
durmo; e de manhã ao acordar.
Acordo,
pensativo!
Questionando,
se sou morto ou vivo.
Pego,
minha mochila no chão.
Acordei!
E acabei de acordar!
Lembro-me;
de uma proposta que recebi.
E,
consciente, resolvo aceitar.
Chega!
De marginalidade
Chega!
De rastejar
Assim,
como um dia:
Optei;
por minha verdade.
É
hora de: De a ela renunciar.
E
dar de volta, o presente que recebi.
Das
boas pessoas, que vivem por aqui.
E
que mesmo; vendo-me tão imundo.
Nunca;
desistiram de mim.
Não,
me chamaram de porco.
Nem
de vagabundo!
Como,
é bom acordar.
Assim;
como fui ajudado.
Quero
ter; a minha vez de ajudar!
Basta!
De fazer sofrer
Agonizando
e apodrecendo:
Na
porta do lar!