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sábado, 18 de abril de 2015

Quase não há maré (Gritando-me de onde venho parte cinco)





Quando dei por mim
Já não tinha pai nem mãe
Tinha apenas muita opinião
E aquela certeza
De ser o dono da razão
Achava ser capaz
De enfrentar a vida sozinho.



Contudo, eram apenas...
Bravatas de adolescente
Que nasceu e foi crescendo
Vendo seu pai bravatear
Mas a coisa se complicou
E muito cedo...
Tive que ir trabalhar!



Vi-me obrigado a abandonar
As brincadeiras e a escola
Não sobreviveria sem meus pais.
Rodando pião, e jogando bola!
Fazia de tudo um pouco
Só não aprendi a roubar
Por viver dentro da pobreza.


Dentro da pobreza!
Mas, fora da desonestidade
Foi breve a presença de meus pais.
Mas suficiente para incutir-me honestidade
Ainda tinha onde crescer
E fui crescendo e aprendendo
A cada dura lição
Que a vida me administrava
E valorizando cada centavo
Que o trabalho me dava.



Fiquei adulto!
Mas, ainda mantinha
O menino sonhador
Que fui um dia
E que até hoje trago comigo
E que levarei ao ir embora
Pode ser cedo...
para falar no assunto
No entanto não sabemos se nada
Meus pais se foram
Ainda olhando outra estrada.



Aquela que não seguiram.
Mas posso dizer que soube
Administrar minha solidão
Prosseguindo na luta
Sem abraçar...
A bruxa da depressão
Como dizia meu pai...
Fui remando!



E assim sempre será
Até quando?
Isso não sei dizer
Mas já me dou por feliz
Por não mais ter
Filho pequeno ou adolescente
Para legar a um mundo
Mais cruel e aterrador
Do que o que meus pais
Embora protestando...
Deixaram para mim.



O que me levou a considerar
Que a cada geração
O mundo vai perdendo
A sua condição de moradia
E o homem aprendendo
O caminho do desamor
Tornando-se...
O mais detestável morador
E assim vão indo
Reciprocamente se destruindo.
Até quando tudo enfim se acabar.



Quando dei por mim
Ainda era eu...
Ainda ousava sonhar
De vez em quando
E o mundo...
Ainda era, quase mundo.
Hoje sigo apenas remando
Quase não há maré
Vejo tudo se acabando
No nada como começou.



Acredito, ser preciso
Uma grande sacudida
Para que caiam as folhas mortas
E timidamente, surja nova vida!
Preciso reaprender os meus valores
Descartar alguns vícios que tenho
Ver sorrir o menino pobre
Como a lembrar-me...
De onde venho!



Lemos
18/04/2015




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