Como se fosse hoje
Embora
muito tempo tenha se passado
Lembro-me!
Do sorriso e das lágrimas de minha mãe.
E da severidade de meu pai
Que
com sua frase predileta...
"Pau
é pau, pedra é pedra!"
Que, claramente, não era sua.
E
com suas fortes palmadas
Chineladas, sapatadas e cintadas.
Dizia
estar, pondo ordem a casa.
Queria impor ordem, através do terror.
Quando
minha mãe, tão bem o fazia
Pelos
caminhos do amor!
Contudo,
meu pai...
Não
era um sujeito ruim
Apenas, teve uma infância sofrida
Criado
a base de pontapés.
Das
pessoas e também da vida...
O
que não justificava seu procedimento.
Recordo-me como se fosse agora...
Dos
outros meninos querendo me bater
Por
conta do meu permanente sorriso
Do
qual não me despia...
Fizesse
frio ou calor
Chovesse
ou fizesse sol
Acreditava
eu...
Que
sorrir me apunha valor.
E, na verdade, ele agregava
Por
ser tudo que eu tinha...
Que
pudesse chamar de meu
Ninguém
o tiraria de mim!
Posto
que foi, a vida quem me deu.
Outra
coisa que era minha...
E
dessa, confesso que não gostava
E nem
fazia questão de mostrar.
Era, a quase permanente, fome.
Que
triste, compartilhava...
Apenas
com meus irmãos
Essa, eu não escancarava na rua
Mas, dava um susto nela na escola.
Com
o mal cheiroso leite em pó
Doado
pelos Estados Unidos...
Ainda
hoje dentro de meus sonhos
Sinto
seu cheiro
Sou
grato!
Foi
graças ao empelotado leite
Que
cresci relativamente inteiro.
Podia
tomá-lo em abundancia
Pois
era rejeitado pela maioria das crianças.
Que
tinham fartura no lar.
Sinto
seu gosto rançoso.
Sempre, me lembrando de quem sou
Gritando-me
de onde venho
E
me induzindo a escolher
Como!
E
para onde vou!
E
bem ou mal, continuo indo...
E
meu filho nunca apanhou
De
mim, de sua mãe...
Nem
de outras pessoas.
Não
conheceu a dor da fome
Nem
pagou pelo meu sofrimento
Assim, como eu paguei
No
meu conturbado passado
Pelo
sofrimento de meu pai
E
por algum pequeno ou grande pecado
Que
ele possa ter cometido.
Voltando às minhas lembranças
Lembro-me
dos rústicos brinquedos
Feitos
à mão por meu pai
Que
impossibilitado de comprar.
Com
latas pregos e madeira
E
muita criatividade...
Punha-se
a improvisar.
Era
essa também uma razão
Para
a criançada vizinha me odiar
Não
tinha comida à mesa
Mas
tinha!
Brinquedos
originais com os quais brincar.
Eram...
Carros,
aviões, barcos e animais...
Uma
Brinquedoteca de se invejar!
Era
odiado também na escola
Aonde
ia para aprender e aprendia
Acredito
ser por conta do leite importado.
Que
o mais abastado não bebia
Creio
ser alguma mágica...
Que
a negra e boa merendeira fazia!
No
entanto nunca me bateram na rua
Acho
que só queriam me assustar
Realmente
assustavam
Porém,
eu me recusava a demonstrar.
Com
meu enorme sorriso
Punha
o medo em segundo plano.
Tive
que trabalhar cedo
Fiquei
órfão precocemente
Com
isso parei de estudar
Acredito
ter aprendido o suficiente
Não
para ser professor, poeta ou escritor...
O
suficiente para sobreviver
Ou
para me fazer entender...
Acho
que sobrevivi!
Bem
ou mal estou aqui
Quando
for embora...
Deixo
descendentes!
Cada
qual com sua historia...
Que
certamente serão diferentes
Onde
estará, extinta a palavra fome
De
minha herança...
Talvez
o debochado sorriso.
E,
naturalmente, meu sobrenome!
Lemos
13/04/2015
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