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segunda-feira, 13 de abril de 2015

Gritando-me de onde venho













Lembro-me!
Como se fosse hoje
Embora muito tempo tenha se passado
Lembro-me!
Do sorriso e das lágrimas de minha mãe.



E da severidade de meu pai
Que com sua frase predileta...
"Pau é pau, pedra é pedra!"
Que, claramente, não era sua.
E com suas fortes palmadas
Chineladas, sapatadas e cintadas.
Dizia estar, pondo ordem a casa.
Queria impor ordem, através do terror.
Quando minha mãe, tão bem o fazia
Pelos caminhos do amor!



Contudo, meu pai...
Não era um sujeito ruim
Apenas, teve uma infância sofrida
Criado a base de pontapés.
Das pessoas e também da vida...
O que não justificava seu procedimento.
Recordo-me como se fosse agora...
Dos outros meninos querendo me bater
Por conta do meu permanente sorriso
Do qual não me despia...
Fizesse frio ou calor
Chovesse ou fizesse sol
Acreditava eu...
Que sorrir me apunha valor.



E, na verdade, ele agregava
Por ser tudo que eu tinha...
Que pudesse chamar de meu
Ninguém o tiraria de mim!
Posto que foi, a vida quem me deu.
Outra coisa que era minha...
E dessa, confesso que não gostava
E nem fazia questão de mostrar.
Era, a quase permanente, fome.
Que triste, compartilhava...
Apenas com meus irmãos
Essa, eu não escancarava na rua
Mas, dava um susto nela na escola.
Com o mal cheiroso leite em pó
Doado pelos Estados Unidos...
Ainda hoje dentro de meus sonhos
Sinto seu cheiro
Sou grato!
Foi graças ao empelotado leite
Que cresci relativamente inteiro.



Podia tomá-lo em abundancia
Pois era rejeitado pela maioria das crianças.
Que tinham fartura no lar.
Sinto seu gosto rançoso.
Sempre, me lembrando de quem sou
Gritando-me de onde venho
E me induzindo a escolher
Como!
E para onde vou!
E bem ou mal, continuo indo...
E meu filho nunca apanhou
De mim, de sua mãe...
Nem de outras pessoas.



Não conheceu a dor da fome
Nem pagou pelo meu sofrimento
Assim, como eu paguei
No meu conturbado passado
Pelo sofrimento de meu pai
E por algum pequeno ou grande pecado
Que ele possa ter cometido.



Voltando às minhas lembranças
Lembro-me dos rústicos brinquedos
Feitos à mão por meu pai
Que impossibilitado de comprar.
Com latas pregos e madeira
E muita criatividade...
Punha-se a improvisar.
Era essa também uma razão
Para a criançada vizinha me odiar
Não tinha comida à mesa
Mas tinha!
Brinquedos originais com os quais brincar.
Eram...
Carros, aviões, barcos e animais...
Uma Brinquedoteca de se invejar!




Era odiado também na escola
Aonde ia para aprender e aprendia
Acredito ser por conta do leite importado.
Que o mais abastado não bebia
Creio ser alguma mágica...
Que a negra e boa merendeira fazia!
No entanto nunca me bateram na rua
Acho que só queriam me assustar
Realmente assustavam
Porém, eu me recusava a demonstrar.
Com meu enorme sorriso
Punha o medo em segundo plano.




Tive que trabalhar cedo
Fiquei órfão precocemente
Com isso parei de estudar
Acredito ter aprendido o suficiente
Não para ser professor, poeta ou escritor...
O suficiente para sobreviver
Ou para me fazer entender...
Acho que sobrevivi!
Bem ou mal estou aqui
Quando for embora...
Deixo descendentes!
Cada qual com sua historia...
Que certamente serão diferentes
Onde estará, extinta a palavra fome
De minha herança...
Talvez o debochado sorriso.
E, naturalmente, meu sobrenome!



Lemos
13/04/2015



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