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terça-feira, 14 de abril de 2015

A vida é bela (Gritando-me de onde venho- parte dois)

Aquelas crianças cresceram
Algumas delas!
Esqueceram suas raízes
Ou se perderam no caminho.
Outras tantas, já morreram!
Das que ficaram...
Muitas, apenas, sobreviveram
Pois ainda se encontram no mundo
Sem saber ao certo...
O que fazer e como fazer!



Uma minoria logrou vencer.
E foi, justamente, a turma...
Que, efetivamente, venceu.
A que, as origens esqueceu.
Eu estava lá!
Naquele distante passado
Em que a sombra da fome
Projetava-se a meu lado
E se fazia
Uma nada agradável companhia.



Era eu...
Que brincava com as brasas
Do nosso rústico fogão
Por não ter com o que brincar
Mantinha-as, na palma da mão.
E quando ameaçava queimar
Atirava-as ao ar...
Para de novo apanhar
Sem que caísse ao chão
De vez em quando me queimava
Mas era parte do jogo...
Até hoje acontece
Ao se brincar com fogo!



Brinquei muito com a chuva
Acreditava poder me desviar dela
Correndo em ziguezague
Acabava molhado e resfriado
Era esse o fim da novela
Não sabia o que era
Uma barra de chocolate...
Dessas que hoje abundam
Em qualquer loja de um real
Comer doce!
Só quando desse alguma abóbora
No nosso pequeno quintal.



Isso, quando houvesse açúcar
Não haver, era quase natural.
Só ouvia as músicas
Que meu pai ouvia.
As boas sertanejas de raiz
Que burilavam, minha pequena alma
Davam a meu pai aparente calma
Mas, não faziam ninguém feliz!
Suas letras falavam de lamentações
Das supostas ingratidões da vida
Como se a vida pudesse ser ingrata.



Falavam de desenganos no amor
De loucuras da paixão
De professoras maldosas
De outros crimes além de traição.
Só, não falavam do governo
Por ser crime sem perdão
E disso qualquer matuto sabia
Dessa regra meu pai
Também não se excluía
Por ter amor a sua carcaça
O homem que dizia nada temer
Submetia-se à mordaça!



Dizia ele...
Ter filhos para criar!
Era verdade, dez verdades.
Dez bocas para alimentar
Além da de minha mãe
Que pouco comia
Fazendo a pouca comida durar
Nem que fosse mais um dia
Era imensa sua dor
Ver os filhos pedirem mais
Quando mais nada havia.



Foram esses os anos incríveis
Que a historia conta com orgulho
Que amiúde o cinema reedita.
Um tema valioso!
Cheio de histórias bonitas
Que advém em sua maioria
Do eterno contraste da riqueza exagerada
Com a miserável vida
Daqueles que não tem quase nada.



Um tema sempre atual
Mas sem o glamour de antigamente
Onde o amor era cantado
Em forma de lamento
Ou então de perspectiva
Dos que viveram esse tempo
Sou uma...
Das raras testemunhas vivas
Que vivenciaram!
Mas se recusam a comentar
A mordaça da vergonha do passado
Insiste em se pronunciar.



Ao ouvir alguma canção
Que me remete ao passado
Fico pensativo
E, por conseguinte calado.
Se perguntado digo
Que estou saudoso e apaixonado
Mas como?
Pode alguém sentir saudade
Da miséria e também da fome
Não sei!
E tampouco procuro saber
Mas não renego meu passado
Nem maquio minha história
Não sei ao certo se existe
Mas, acaso exista...
Não é na terra que habita a glória!



Falando em glória...
Lembrei-me da Glorinha
A mais bela que tinha
Ali na minha rua
Meu primeiro amor
Que sequer soube...
Da minha mísera existência.
Não sei que fim levou
Sendo que teve algum fim
Pobre Glorinha!
Teve que se virar sem mim.



E eu me virei sem ela!
Dias atrás revi o melhor filme
Que na vida assisti...
"A vida é bela"
E realmente ela é...
Basta-nos seguí-la
Com coragem e alguma fé!



Lemos
14/04/2015




Não havia chocolate
Para nos dar pra comer.
Mas havia...
Vara de marmelo
Para nos bater!


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