Da sorte adversa
Para mudar
A realidade perversa
Dentro da qual
Eu subsistia.
Tirou-me da sarjeta
Banhou-me e me enxugou
Limpou-me as feridas
Barbeou-me e me penteou
Dizia me devolver à vida.
Depois então me lapidou
Ao seu bel prazer
Encerou-me e me cristalizou
Pra todo mundo ver
E depois me ostentou!
Levava-me aos finos lugares
Onde costumava ir
Onde calado eu ficava
E só falava, nos raros momentos.
Em que você mandava
E somente o que você mandava!
Vivia limpo, bem vestido.
Portando um alvo sorriso
E sempre bem alimentado
Um ofuscante Rolex no braço
Como marca registrada
Como um lembrete
De que eu havia vindo do nada!
De vez em quando tinha eu
Que recitar alguma poesia
Para que seus amigos
Notassem minha espetacular voz
E vi!
O que poderia ser um sonho
O que poderia ser um sonho
Mudar em realidade atroz!
Tanto é, que cheguei a saltar
Em grande desespero
Do seu imponente Jaguar
Para me misturar ao lixo
E nele me locupletar
Extremamente revoltado...
Por ser violentamente arrancado
Do meu verdadeiro lar!
Lemos
05/06/2015
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