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sábado, 3 de janeiro de 2015

Sozinho!






Voltava ele para sua casa
Havia ido caminhar um pouco
Para clarear as ideias
Precisava demais disso
Para ter forças e seguir vivendo
Era teimoso, sabia estar morrendo.
Mas da metade já havia se ido
Ele bem o sabia, mas procurava não ver.
Saia a caminhar para não pensar
Mas, no entanto pensava.
Saia para não ver o mal
Que a vida lhe proporcionava
Só voltava para casa
Que há muito deixou de ser um lar
Por não lhe ocorrer....
Ou então, por não haver
Qualquer outro lugar.
Para onde pudesse ir
Sem se contrariar, sem se ferir.
E perdido nessas divagações.


Seguia ele, nada resoluto.
Sufocado por desastrosas emoções
Foi quando suas pernas faltaram
E o atiraram ao chão
Sem qualquer chance de defesa
Sem possibilidade de ação
E ali ficou, caído e exposto
Com a morte gritando-lhe aos ouvidos
E uma lágrima amarela
A escorrer por seu rosto
As pessoas passavam
Algumas atravessavam a rua
Alheias a sua dor...
Que era exclusivamente sua
Foi quando Deca, o pinguço do lugar.
Avistou-o caído ao voltar do bar
Deu-lhe então a mão
Ajudando-o a se levantar
Mas, não deixou por menos
Não perdeu a chance de alfinetar.


De modo algum...
Desperdiçou o mórbido prazer
De sugerir que parasse...
Imediatamente de beber!
E o pobre homem que jamais
Consumiu qualquer tipo de bebida
Teve sua alma novamente ferida
Mas ainda, não era o fim
De sua triste novela.
Ao chegar a casa
Deparou-se com sua mulher
Já não tão jovem e bela.
Bebendo e jogando cartas
Com os amigos dela
Contudo sua alma ferida
Já não tinha qualquer reação
Sua dor já não tinha tamanho
Passou por sobre o sujo tapete
E foi tratar de tomar um banho
Seu corpo doía por causa da queda
Que havia levado.


Olhando no espelho viu o enorme galo
Mas não se espantou
Não era aquele o primeiro
Ainda latejava, o antes derradeiro.
Que parecia enfurecido
Por estar sendo substituído
Substituído assim como ele
Que via mais de cinco em seu lugar.
E seu filho homem assistindo
Parecendo não se importar.
Cantarolando pela casa
“Deixa a vida me levar”
Lembrou-se ele, quê:
Também já havia cantado
Aquela despretensiosa canção
Que, como se fosse um mantra
Trouxe-lhe essa dura lição
Entretanto não questionou
Ser merecida ou não
Seu duro calvário...
Sua ingrata missão!


Abriu, então, o chuveiro
água gelada atenuou a dor
Olhou para o cesto de papel higiênico
Onde os papeis jogados
Pareciam ter vida...
E saltarem para fora.
Maldosamente pensou:
Até eles, querem ir embora!
Puxou então a cordinha da descarga
E viu, seres estranhos indo embora
Em meio ao redemoinho marrom
Que ali se formou
Mais uma vez...
Seu cérebro entorpecido
Num supremo esforço pensou...
“Preguiçosos os amigos de minha mulher”
Depois então considerou que...
Cada um faz aquilo que quer
E inspirado nos papéis do cesto
 E no que viu no estranho redemoinho.
Apenas, com a roupa do corpo
E seus documentos no bolso
Novamente saiu.
Decidido a sofrer, morrer ou vencer...




Sozinho!

Lemos
03/01/2014


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