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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Nos braços da cruz.



Estava eu, ao lado dos escombros da antiga estação de trens.
Em minhas mãos, um pequeno saco de papel
Do qual eu tirava grãos de milho e jogava aos pombos
Que teimosos, insistiam em não abandonar aquele sítio
Não lembro, precisamente, no que pensava
Acho mesmo; que não pensava em nada naquele momento
Só me lembro que de repente, surgiu um pombo enorme.
Era um pombo vermelho, exatamente cor de sangue.
A ave era gigantesca e desconsiderou os grãos de milho
Pegou-me pelo colarinho, com seu enorme bico vermelho e serrilhado.
E alçou voo pelos céus da cidade, levando-me consigo.
Voou, voou, até ultrapassar os limites da cidade.
Indo pousar, no cemitério da cidade vizinha
Só sei que a estranha ave, depositou-me suavemente.
em um dos braços, de uma cruz de mármore.
E novamente, ganhou os céus, tomando rumo ignorado.
Talvez, tenha voltado à antiga estação, para continuar sua sina de pombo bombadão.
Com muita dificuldade, devido a minha elevada idade.
Desci daquela cruz, já com outra em minhas costas.
Sem comparações, é claro!
Refiro-me apenas ao momento.
Uma vez no chão, percebi que o saquinho de milho
Continuava em minhas mãos, e, despretensiosamente.
Atirei alguns grãos ao chão.
Não apareceu nenhum pombo, pequeno, ou mesmo gigante.
Para levar-me de volta, ao meu lugar.
Aí sim tive um pensamento sinistro
“Será que meu lugar é aqui; tomara que ainda não!”
Balancei a cabeça tentando afastar aquele pensamento
Olhei para o lado e vi uma pequena fenda no chão
Percebi que aquela fenda se abria cada vez mais
Intrigado, murmurei:
- Só me faltava aparecer um exército de zumbis
Mas não apareceu nenhum zumbi
Já estava pronto, para descarregar minha ira sobre eles
O que surgiu naquela fenda foi um grande broto
Era o milho que joguei que estava germinando
Estiquei o braço para pegar uma folhinha para mastigar
Afinal! Tudo aquilo estava me dando fome
Olhei para baixo e percebi que solo se encontrava
A uns cinco metros e continuava a se distanciar
O pé de milho estava me levando para cima
Já estava muito alto para pular
Sem alternativa, agarrei mais ainda a planta.
E o pé de milho foi crescendo, crescendo.
Quando atravessou a primeira camada de nuvens
Deparei-me com um sujeito sentado em uma nuvem branca
Em suas mãos um bandolim, que ele desajeitadamente tocava.
Certamente não era um anjo, pois não tinha asas, nem tocava harpa.
Muito mal tocava seu feio e sujo bandolim.
Acenei para o sujeito, e passei para segunda camada de nuvens.
Nunca imaginei que nuvens viessem em camadas
Novamente, encontrei outro cara tocando um instrumento.
Era um camarada com feições de negro, e com pele cor de rosa.
Tocava maravilhosamente bem um violino dourado
Entretanto, também não era anjo.
Tinha cara de safado!
Resmunguei qualquer coisa, a respeito de castelos e gigantes.
Mas aquilo; era conto de fadas, e no conto não era milho.
Era feijão!
Enquanto resmunguei; terceira camada.
Onde iria parar aquilo?
Parou em um imenso castelo, onde havia um elevador.
Estranho elevador, como tudo naquele dia.
Entrei no elevador e apertei o botão de descer
Se tivesse gigante ali, não seria eu a pagar pra ver.
Fechei os olhos, pois tenho vertigem em elevador.
Quando finalmente os abri. Estava sentado em minha cama
Ao meu lado, minha mulher com um cigarro na mão.
Fumava sem parar, assemelhando-se a um dragão.
Fechei novamente os olhos, horrorizado com a cena.
Ao abri-los estava novamente no elevador
Não tinha acordado, que pena!
Mas; nem sequer sabia se estava dormindo!
Enfim, o elevador parou de descer
Ao sair, estava de novo na antiga estação.
De minha boca, escorria um filete de baba esverdeada.
Atirei longe, o pacote de milho
E até hoje corro, sem querer pensar em nada!






Lemos vinte e nove de julho de dois mil e treze.






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