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terça-feira, 16 de julho de 2013

Na porta do lar.


 

 

Sentado, na fria calçada.
Não me preocupa nada
Digo que é só alegria.
Embora, minha figura.
Esteja bastante apagada.
Do que, já foi um dia.
Vejo as pessoas passando.
Algumas, me cumprimentando.
E me chamando, pelo meu nome.
Outras, simplesmente me ignorando.
O que talvez; seja uma forma.
Que encontram, de respeitar.
Aquilo, que não se pode entender.
Através; do olhar da razão.
Ou quem sabe:
Uma estranha forma de driblar.
Algum manifesto do coração
Mas; não faz diferença.
Não espero; qualquer recompensa.
Pela minha sinceridade
Por ter seguido, minha verdade.
Tenho o estômago a ronronar.
É esta, sua forma de protestar.
Pela falta de comida.
Sem ter; dinheiro para gastar.
O pouco; que consigo arranjar.
Vendendo latas e papelão
Deixo, com o Bigode do bar.
Ou; no mercado do João.
Que, penalizados, me entregam.
A garrafa, de aguardente.
Que apanho, com sofreguidão.
Passa; uma colega de infância.
Dou a ela, o meu melhor sorriso.
De minha boca, estragada.
Com uma feia, e imensa janela.
Dirijo-lhe; um espontâneo elogio:
-Nossa! Como você está bela
E ela responde: - Amém!
-Você; também está bem.
 
 
 
 




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E segue, o seu caminho.
E eu, continuo.
Em meu canto, quieto e sozinho.
Com a mente a vagar
Entre a antiga vida, e a atual.
Mas, sem traçar qualquer ideal.
Pego, um tomate estragado no chão.
E o limpo, com o dorso da mão.
Engulo-o, quase que de uma vez.
À guisa de refeição.
Apanho a garrafa, que está ao meu lado.
E bebo, a cachaça pelo gargalo.
Assusta-se, quem vê o tamanho.
Dos olhos que arregalo
Ao sacudir, o líquido na boca.
Antes, de finalmente o engolir.
Pode-se dizer ser um estranho.
E até mesmo, nojento ritual.
Mas cada qual tem o seu jeito.
E assim: Sinto-me natural
Passa; o dentista japonês.
Em seu reluzente carrão
Abaixa um pouco o vidro.
E grita festivo:
-Tudo bem Pedrão!
Respondo-lhe; que sim.
Feliz; pela consideração.
E pela prova de humildade
Ao não, desprezar o irmão.
Diante da adversidade.
O que não é bem o meu caso.
Pois tenho, a vida que escolhi.
Também; já tive um lar.
Já tive! Mulheres e carrão
Muito dinheiro, para gastar.
Hoje; nem sapato tenho!
Para, meus sujos pés calçar.
E minha mulher, é a minha mão.
Piada; infame e sem razão.
Que pode levar à ira.
Alguns, puritanos de plantão.
 
 
 
 
 
 




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Tive mulheres, boa roupa e carrão.
Contudo; nem por isso me prendi.
Pois; mesmo tendo tudo isso.
Faltava-me o ar!
Faltava-me; voz para cantar.
Por isso; fui atraído pelo bar.
Onde havia muita cantoria.
E minha voz aparecia
Lá havia bebida:
E era boa a companhia.
Hoje; sou conhecido.
Como; o velho e bom Pedrão.
Aquele; que não faz mal a ninguém.
E que leva; a vida que escolheu.
Dizendo, que vive muito bem.
Vejo; passar a mulher.
Que no passado; dizia me amar.
E agora. Encontra-se bem casada.
Faz de tudo; para não me olhar.
Porém, como passado não se pode negar.
Disfarçadamente, me dá uma olhada.
Talvez; pensando no desgosto.
Do qual, felizmente escapou.
Quando comigo, não se casou.
Ou quem sabe?
Se tudo, não seria diferente.
Se tivesse, comigo se casado.
Mas, entre o certo e duvidoso.
Congratula-se, por ter renunciado.
Logo, ao ver que minha trajetória.
Pendia; para o lado marginal.
Muitos pensamentos:
Nessa minha vida, que é uma novela.
Mas, não é hora de lamentos.
É momento! De molhar a goela
Outra talagada!
Outro, abominável gargarejo.
E a bebida, desce suavemente.
Do segundo trago, em diante.
O sabor é bem diferente.
À noite, vem chegando.
E com ela, a vontade de dormir.
Dirijo-me, à padaria falida.
 
 
 
 




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Sob cujo toldo, faço minha cama.
O dono do restaurante atravessa a rua.
E generosamente:
Entrega-me, uma marmita.
Como, vagarosamente.
Quase, vencido pelo sono.
Vejo; em minha perna a ferida.
Purulenta, e malcheirosa.
Que parece dobrar de tamanho.
A cada dia, que se passa.
E começo, a achar estranho.
O meu, modo de vida.
O meu, conceito de liberdade.
Deito-me; sobre o braço direito.
O coração; acelerado no peito.
Clama! Por um pouco de juízo
Ponho, em xeque meu sorriso.
E; minha idéia de felicidade.
Foge das proporções reais.
Chego, enfim, a duvidar.
Das minhas faculdades mentais
Abro uma boca descomunal.
Levo de novo, minha mão à garrafa.
Todavia, desisto da intenção.
Já não sei; a quantas milhas

Encontro-me da razão.
         Uma lágrima; escorre-me no rosto.
Faço uma sincera oração.
Doem-me, as costas.
Por isso, mudo de posição.
E antes, de finalmente me entregar.
Ainda, encontro forças.
Para fazer; uma nova oração.
Ainda encontro:
Uma razão, para pensar.
No mal, que faço as pessoas.
Que me desejam, coisas boas.
Enfim durmo; e de manhã ao acordar.
Acordo, pensativo!
Questionando, se sou morto ou vivo.
 
 
 
 
 
 




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Pego, minha mochila no chão.
Acordei! E acabei de acordar!
Lembro-me; de uma proposta que recebi.
E, consciente, resolvo aceitar.
Chega! De marginalidade
Chega! De rastejar
Assim, como um dia:
Optei; por minha verdade.
É hora de: De a ela renunciar.
E dar de volta, o presente que recebi.
Das boas pessoas, que vivem por aqui.
E que mesmo; vendo-me tão imundo.
Nunca; desistiram de mim.
Não, me chamaram de porco.
Nem de vagabundo!
Como, é bom acordar.
Assim; como fui ajudado.
Quero ter; a minha vez de ajudar!
Basta! De fazer sofrer
Agonizando e apodrecendo:
Na porta do lar!
 
 
 

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