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sábado, 9 de julho de 2016

Lembranças da infancia


Tio Lázaro!
Lembro-me de vê-lo deitado sobre quatro cadeiras de madeira, um velho travesseiro e apenas um cobertor pra agasalhar.
Na pequena cozinha...

As brasas do fogão de lenha cumpriam outra missão, depois de um dia, em que seu calor era usado para o preparo dos alimentos.
À noite, essas brasas o aqueciam.

Nunca se ouviu sair da boca, quaisquer lamúrias pela pouca sorte que a vida lhe presenteou...
Quando tinha alguns trocados no bolso, seus desejos eram realizados  em goles de aguardente. Voltava para casa...
Com o coração cheio de alegria, no corpo que mal o aguentava em pé. Antes de cair no sono, cantava refrãos de algumas canções, sempre referente a um amor não correspondido ou ingratidão.

Era a grande ferida...
Aberta em seu coração. No dia seguinte ouvia o velho sermão da sua irmã mais nova.
Que profetizava que dessa forma morreria rapidamente.


Numa manhã ele disse adeus, jurou quê:     .
Ia mudar de vida. Partiu levando somente sonhos, não tinha nenhum outro bem. Nos pés um velho chinelo de dedo, calça remendada no joelho, uma  surrada camisa xadrez...
E sua única blusa de lã.
Não se sabe se ele tinha algum documento, só o nome de Lázaro e o apelido de Ía...


Ia ele atrás do futuro e deixando pra trás as lembranças.
 Naquela noite!
Sua cama, que era feita com as cadeiras, permaneceu ao redor velha mesa.
Todos olharam pra cozinha com tristeza.
Sim sentiram sua falta. A irmã apagou as brasas, pois agora não haveria mais necessidade.
Os dias se passaram e aos poucos foram se acostumando, com aquela  ausência. Anos depois uma notícia, retirou da gaveta a sua saudade. O tio Ía não voltaria mais, ocupar um espaço da cozinha.

 Não se ouviriam, fragmentos de suas canções de amor. Seu corpo foi sepultado sem nenhuma despedida. Assim encerrou sua jornada, saindo da vida sem fazer alarde.

Antônia Maria

09/07/2016



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