Tio Lázaro!
Lembro-me de vê-lo deitado sobre quatro
cadeiras de madeira, um velho travesseiro e apenas um cobertor pra agasalhar.
Na pequena cozinha...
As brasas do fogão de lenha cumpriam
outra missão, depois de um dia, em que seu calor era usado para o preparo dos
alimentos.
À noite, essas brasas o aqueciam.
Nunca se ouviu sair da boca, quaisquer
lamúrias pela pouca sorte que a vida lhe presenteou...
Quando tinha alguns trocados no bolso,
seus desejos eram realizados em goles de aguardente. Voltava para casa...
Com o coração cheio de alegria, no
corpo que mal o aguentava em pé. Antes de cair no sono, cantava refrãos de
algumas canções, sempre referente a um amor não correspondido ou ingratidão.
Era a grande ferida...
Aberta em seu coração. No dia seguinte
ouvia o velho sermão da sua irmã mais nova.
Que profetizava que dessa forma
morreria rapidamente.
Numa manhã ele disse adeus, jurou quê:
.
Ia mudar de vida. Partiu levando
somente sonhos, não tinha nenhum outro bem. Nos pés um velho chinelo de dedo,
calça remendada no joelho, uma surrada camisa xadrez...
E sua única blusa de lã.
Não se sabe se ele tinha algum
documento, só o nome de Lázaro e o apelido de Ía...
Ia ele atrás do futuro e deixando pra
trás as lembranças.
Naquela noite!
Sua cama, que era feita com as
cadeiras, permaneceu ao redor velha mesa.
Todos olharam pra cozinha com tristeza.
Sim sentiram sua falta. A irmã apagou
as brasas, pois agora não haveria mais necessidade.
Os dias se passaram e aos poucos foram
se acostumando, com aquela ausência. Anos depois uma notícia, retirou da
gaveta a sua saudade. O tio Ía não voltaria mais, ocupar um espaço da cozinha.
Não se ouviriam, fragmentos de suas canções de
amor. Seu corpo foi sepultado sem nenhuma despedida. Assim encerrou sua
jornada, saindo da vida sem fazer alarde.
Antônia Maria
09/07/2016
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