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terça-feira, 14 de julho de 2015

Mais nada!


Vi um homem sendo executado
Bem ali no meio da rua
Não me dei por achado
Aquilo já era uma verdade crua
Coisa rotineira ali na periferia
Tão certo como o nascer
De um novo dia
Enquanto o mundo fosse mundo
Não me dei por achado
No entanto, não deixei.
De dar uma olhadela
No que seria, apenas...
Mais um inevitável capitulo.
Da interminável novela
Que é a natureza humana
Na qual a violência fala mais alto
Que a bondade e a decência
Não sei se deveria ter olhado
Porém olhei!
E, por ter olhado, ditei a minha sorte.
Aquele olhar inocente e curioso
Decretou minha sentença de morte.



Foi quando o executor
Lançou-me um olhar ameaçador
E mandou-me deitar no chão
Respondi a ele quê...
Deitado eu não morreria
E realmente não morri deitado
Ao chegar ao solo
Estava mais que despachado
Por uma poderosa rajada
De metralhadora Lewis
Mesmo morto, ainda pensava:
O quanto a morte é sedutora
E se daria realmente
O descanso prometido
Talvez depois!
Pois naquele momento
O frio matador
Arrastava eu e meu companheiro
De última viagem
Duramente pelo meio fio
Até onde se encontrava
Uma mangueira vermelha
Com a qual despejou
Fortes jatos de água
Em nossos corpos ensanguentados.



Disse ele que era...
Para chegarmos limpos
Diante do diabo...
Foi quando Severino...
O matuto da rua
E dono da água de nosso
Frio e derradeiro banho
Aproximou-se e reconheceu
O outro morto e eu
Sobre o outro disse:
Nada a lamentar
A meu respeito falou:
-Caso tivesse sentimentos...
Fatalmente, iria chorar.
Mas, não lamentou e nem chorou
Entrou em sua casa
Sob a mira de metralhadora
E acho que está lá dentro até agora
Ainda ouvi sua última frase
“Homem que é homem não chora!”



Então apareceu...
A beata da rua
Com o coração no céu
E a cabeça na lua!
Pronunciou meu nome e...
fez uma comovente oração
Fechou-me os olhos
Com sua mão ensebada
Dali em diante...
Não vi e nem ouvi
Mais nada!



Lemos
14/07/1927



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