Chegou chegando e causando em mim
Veio calorosa, afável e, aparentemente feliz
Fez-se amiga e muito mais
Presenteou-me com sorrisos e paz
Cresceu em meu coração espaçoso
E eu, simplesmente, deixei acontecer!
Por necessidade, comodidade...
Ou talvez...
Por não vislumbrar uma outra opção.
E assim fomos seguindo, sem que sequer
Eu tivesse qualquer tipo de pensamento
Não via outra opção, nem achava necessário
Que houvesse uma outra saída
Você foi se tornando, cada vez mais afável
Cada vez mais importante
A cada dia mais tocante, e mais tocável
Foi, onde fui me emaranhando
E seguindo, sem nunca me preocupar
Em marcar ou decorar o caminho
Dessa maneira viajei por alguns anos
Que durante a festa, foram os melhores
Que imaginei que alguém poderia viver.
E aquilo, como um milagre de amor
Foi crescendo enquanto eu sem saber
Ia diminuindo, dia após dia...
Sem sequer me dar conta da dimensão
Do sonho escravocrata, no qual eu flutuava
Nada mais ouvia, além da sua voz
Nem respirava onde não havia o seu perfume.
Até que um dia, sua amabilidade foi diminuindo
E eu nada percebia, dentro da redoma em que me via
Seu perfume, que foi descontinuado
Ainda viaja por minhas narinas
Não vejo, meus cabelos embranquecidos
Parei naquele tempo, por décadas
Depois que você saiu do meu mundo ‘encantado”
Você me encontrou triste, porém inteiro
E me deixou pequeno, apenas um pedaço do que fui,
Porém incapaz, de rir ou de chorar
Ao me ver, escrevendo essas melancólicas memórias
Consigo lembrar vagamente do meu mundo
Que era supostamente normal, antes do evento, "você".
Mas, que não me levaria a tais divagações
A vejo, de vez em quando por aí
Com o mesmo sorriso, já com marcas do tempo
Porém, nem por isso menos encantador.
Contudo, encantamento também é suscetível
De prazo de validade, pelo menos
No que tange a minha pessoa
"Decifra-me" ou te devoro, frase marcante
Não a decifrei, jamais a decifrarei!
Entretanto, não fui devorado
Sobrou, uma mente calejada para relembrar...
Duas mãos! Cansadas para digitar.
Fazendo uma reconstituição não fiel
Pois como já sabemos eu, estava sob magia.
Sem poder voltar para ver, e o relógio segue adiante
E os tijolos coloridos, já não mais pavimentam a estrada
Talvez, nem você mesma, possa se traduzir
E ainda há estrada à frente, para todos
Os que caminham sobre a Terra.
Foi boa minha viagem, e acredito que também o foi
Para você que se deixou viajar.
Sei lá por qual cargas d’água
Essa história de amor se fez escrever
Da forma ambígua como foi escrita
Ver entrar em minha vida...
Um sonho que eu
não sonhava
Uma alma, que por si só se afirmava
Como, incompatível com meu modo de ser
Pois me enxergava como o menor dos caminhos...
Uma pedra sem valor, que jamais brilharia.
Mesmo assim, pisou em minhas pegadas
Talvez para mensurar o tamanho dos meus passos
Não nos tornamos, felizes para sempre
Já sabíamos de antemão que isso não existe
Foi você quem soprou o apito inicial
E por isso mesmo, sentiu-se no direito de decretar o final.
A única frese que me sobrou
Foi dizer que, ponto final nunca é aplicável...
Pois, todas as histórias que conheço
Ainda reverberam pelo mundo
E impactam, positivamente ou não...
Dentro da vida das pessoas.
Me deixando a certeza de quê...
Tudo que extraiu de mim
Foram coisas boas!
Lemos 28/12/2022